A “nova” vacina contra meningite B foi lançada recentemente
e vem gerando bastante dúvida nos pais quanto a necessidade de vacinar e os seus
riscos. Digo que a vacina é nova entre aspas, porque ela já existe há alguns
anos fora do Brasil. Em janeiro de 2013 foi liberada para o uso na União
Européia e em agosto do mesmo ano, na Austrália. Assim, boa parte dos efeitos
colaterais já foram descritos. Os principais relatados são febre e dor local.
A meningite meningocócica é uma infecção bacteriana
gravíssima causada pela Neisseria
meningitidis, o meningococo. Já foram identificados 13 sorotipos diferentes
como responsáveis pela doença meningocócica invasiva. Dentre eles, os mais
frequentes são: A, B, C, W135 e Y. Em
torno de 90% dos casos de doença meningocócica relatados no mundo são causados
pelos sorotipos A, B e C. Os sorogrupos B e C são mais frequentes na Europa e
no continente americano. Os sorogrupos A e C predominam na Ásia e na África. No
Brasil, o sorotipo B é responsável por aproximadamente 20% dos casos, sendo o
meningococo C o mais frequente.
Apesar de ter incidência baixa (1 a 2 casos a cada 100.000
habitantes), é uma doença de evolução rápida, de grande gravidade, de difícil
tratamento e com alta letalidade, podendo chegar a 70%. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 20% das pessoas que tiveram
meningite ficaram com algum tipo de sequela como surdez, amputações, crises
convulsivas e outras alterações neurológicas.
Sua transmissão é através do contato com pessoas doentes ou
portadoras da bactéria. É transmitida por via respiratória através de gotículas
de saliva, espirro e tosse.
Os principais sintomas da meningite são febre, dor de
cabeça, vômitos, rigidez de nuca, convulsão e petéquias (manchas vermelhas na
pele causadas por lesão dos vasos sanguíneos).
Em 2010, a vacina contra o meningococo C foi introduzida no
Programa Nacional de Imunização levando a uma queda importante das formas
graves da infecção nas crianças menores de 4 anos. A vacina contra a meningite
B foi recomendada e incluída nos calendários vacinais da Sociedade Brasileira
de Pediatria e Sociedade Brasileira de Imunizações no seguinte esquema:
-
em menores de 6 meses, a primeira dose poderá
ser dada a partir dos 2 meses de vida, sendo necessário 3 doses com intervalo
de 2 meses entre elas e 1 reforço após o primeiro ano de vida.
-
para as crianças entre 6 meses e 1 ano, são 2
doses com intervalo de 2 meses entre elas e 1 reforço após o primeiro ano de
vida.
-
para os maiores de 1 ano, são 2 doses da vacina
com intervalo de 2 meses.
A vacina está disponível em clínicas particulares de
vacinação a um custo ainda elevado. Não há previsão para sua entrada no
Programa Nacional de Imunização, uma vez que numericamente, o meningococo B não
é responsável por tantos casos de mortes ou incapacitações, então não há um
interesse de custo x benefício para a vacinação em massa. Porém
individualmente, pode prevenir uma infecção gravíssima e de alta letalidade.
Cada pediatra tem um posicionamento frente aos assuntos mais
polêmicos como está sendo essa vacina. Eu sou uma das pediatras que indicam a
vacina. Isso porque em minha prática médica pude, infelizmente, presenciar
alguns casos de meningite meningocócica e seus tristes desfechos. Apesar de ser
responsável por 20% dos casos, quando ela acomete alguém que amamos, nossa
estatística passa a ser 100% (isso de uma doença que tem grandes chances de
matar ou de deixar sequelas). Acredito que se há uma forma de previní-la, por
quê não? Considero as vacinas um grande avanço da medicina. E isso se torna
evidente quando vemos surtos de doenças antes controladas em áreas onde o
movimento anti-vacina tem força. Também não acho que é o caso de sair
desesperadamente vacinando seu filho, já que não estamos vivenciando um surto
da doença. Mas se houver a possibilidade financeira, acho uma forma importante
de proteção dos nossos filhos e, portanto, recomendo aos meus pacientes.