quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Minha barriga dói!!!

     Por solicitação de uma mãe, vamos falar hoje sobre dor abdominal. Esse é um tema muito frequente nos livros e nos consultórios de pediatria. Tão frequente mesmo que o estranho é não ter paciente em idade escolar que a mãe não traga a queixa de "ele(a) reclama sempre de dor de cabeça, barriga e/ou nas pernas". No caso da dor abdominal, a pergunta seguinte é "a senhora acha que pode ser verme?".
     Estamos falando hoje sobre as dores recorrentes da infância, sendo a dor abdominal, em membros e cefaléia as mais prevalentes. Como normalmente as queixas são vagas e, principalmente, subjetivas, sua abordagem também não é tão simples assim. A dor abdominal recorrente foi definida em 1958 como "ocorrência de pelo menos 3 episódios de dor durante um período de pelo menos 3 meses, com intensidade suficiente para interferir nas atividades habituais da criança. Ela pode ter causas orgânicas ou psicossociais. As causas orgânicas podem ser de origem gastrointestinal (constipação crônica, doença inflamatória intestinal, intolerância a lactose, parasitose intestinal, refluxo gastroesofágico, doença celíaca, úlcera péptica, gastrite, alterações funcionais, aerofagia), urinárias (infecção do trato urinário, cálculo renal), ginecológicas (cólicas menstruais, cisto de ovário, doença inflamatória pélvica) e sistêmicas.
     Apesar de trazer grande angústia aos pais, a dor abdominal recorrente tem baixa chance de estar associada a alguma causa orgânica, isto é, doença física.



     Mas o seu diagnóstico é de exclusão, sendo necessário uma boa anamnese, exame físico e alguns exames complementares.
     É necessário caracterizar a dor quanto a sua frequência, intensidade, desencadeantes, fatores de melhora e de piora e se há queixas de outras dores recorrentes associadas. É importante avaliar se existe na família alguém com queixa de dor ou doença crônica. Se o relacionamento com pais, irmão, amigos e escola está tranquilo. É interessante também observar qual a reação dos pais e da família frente à queixa de dor.
     É importante avaliar se há algum sinal de alerta. São eles:
  • dor fixa em região longe do umbigo,
  • dor intensa que acorda a criança no meio do sono,
  • sinais sugestivos de doença como a perda de peso, parada ou desaceleração do cresicmento, febre recorrente, vômitos importantes, aumento do volume abdominal, diarréia crônica, sangramento gastrointestinal, dores articulares,
  • história familiar de anemia falciforme, úlcera péptica, doença inflamatória intestinal e doença celíaca
     Na ausência de sinais de alerta e com exame físico normal, torna-se desnecessário a realização de exames invasivos e onerosos. Dessa forma, se o seu filho reclama constantemente de dor de barriga mas não apresenta sinais de alerta, saiba que essa queixa é normal e que dificilmente estará associada a alguma doença grave (principal preocupação dos pais). Mas lembre-se de comentar sobre essa queixa na próxima consulta com o pediatria do seu filho, especificando aquelas informações importantes (frequência, intensidade, localização da dor, desencadeantes, fatores de melhora e de piora).